Presidente Ana Cristina e prefeito Zaffa no Almoçando com Acigra online
por Rafael Martinelli | Publicada em 05/04/2021 às 13h31| Atualizada em 15/04/2021 às 18h03
O que Luiz Zaffalon gostaria de mudar em Gravataí não depende de dinheiro. Começo pelo mais exótico, e sonhado pelo sociólogo de 67 anos, até porque a manchete instiga a leitura de pelo menos 10 coisas importantes abordadas pelo prefeito no Almoçando com a Acigra online.
– Fiz sociologia para estudar a sociedade. Percebo que nos falta sentimento de pertencimento. Não estou culpando ninguém, apenas constatando uma característica de antigas ‘cidades-dormitório’ – disse, a representante do PIB tradicional de Gravataí, mas, como o próprio prefeito fez o corte a seguir, não do PIB financeiro.
Zaffa usou o exemplo de Bento Gonçalves.
– Os empresários moram na cidade, andam pelas ruas e seus filhos estudam em colégios locais. Aqui temos empresas gigantes, mas muitos donos não tem relação com a cidade e moram no exterior inclusive.
– Precisamos trabalhar esse sentimento de pertencimento. Estou tentando com muito diálogo. Quero a sociedade conhecendo e participando do governo. Nem tudo é responsabilidade apenas do poder público.
Listo 10 coisas que o prefeito parece querer compartilhar com os gravataienses. Sejam agradáveis ou não, são importantes para quem pertence à aldeia.
Concordo com muito; não com outro tanto.
Mas é assim que se constrói o espírito comunitário, para além de metralhas digitais no Grande Tribunal das Redes Sociais, ou memes e fake news de WhatsApp, como, já que jornalismo é dar nome às coisas, o são algumas postagens feitas no grupo do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Gravataí (Codes) por gente bem importante nessa missão.
Siga.
1.
Zaffa confidenciou que a presidente da Acigra, Ana Cristina Pastro Pereira, pediu uma “pauta positiva”.
– Antes, é inevitável falar da saúde. Nestes 3 meses de governo a COVID nunca foi tão grave. Perdi 3 anos de governo em 3 meses. Apresentamos um plano de governo na campanha, mas hoje 90% dedico à pandemia – disse, sobre o contágio econômico da crise do coronavírus que, com a necessidade de mais investimentos e a perda de receita, já faz com que o governo projete o ‘fim’ do orçamento da saúde mais cedo ainda do que alertei em Furou a bolha da COVID: Orçamento da Saúde termina em setembro; 2021 não será um ano bom.
Se em 2020 o governo federal repassou R$ 80 milhões como socorro para as perdas com a retração da economia e para investimento em estruturas de saúde, além de autorizar a pedalada nos repasses previdenciários, em 2021 a Prefeitura conta apenas com recursos próprios para enfrentar a pandemia.
– Tínhamos 32 leitos covid e agora temos 150. É uma parceria com a Santa Casa, mas por se tratar de uma instituição privada, a Prefeitura tem que bancar.
Zaffa advertiu para o pior momento da pandemia em março, o que tratei em artigos como Março de Gravataí teve 4 a cada 10 mortes de 1 ano de pandemia; Última vítima tinha 14 anos, mas confirmou a redução nas internações. A ocupação de leitos e UTIs em Porto Alegre está em 110% e em Gravataí 100%.
– O alerta continua. Mas já chegamos a ter 42 pacientes em cadeiras ou no chão esperando leitos e UTIs. A direção da Santa Casa ameaçou fechar o hospital, mas chamei aquela reunião com entidades, judiciários, legislativo, MP, e conseguimos evitar. Por mais precário que tenha sido, não deixamos ninguém sem atendimento, sem equipes médicas ou medicamentos.
O prefeito disse ter-se despido de ideologias ao sentar na cadeira principal do segundo andar do Palacinho ocre da José Loureiro da Silva.
– De um lado tem negacionistas, de outro os que dizem acreditar na ciência, alguns querem o comércio 100% aberto e outros pedem lockdown. Eu, como prefeito, não posso ter opinião. Preciso ter capacidade de dialogar com os dois lados. Acho que tenho conseguido.
2.
A reforma da previdência municipal não é a cloroquina, é a vacina de Zaffa para as contas públicas. O projeto está pronto para ser enviado à Câmara, adaptando à aldeia as regras nacionais aprovadas pelos congressistas em Brasília.
– Acredito na aprovação por unanimidade quando os vereadores conhecerem a realidade. Quero apresentar as informações para toda sociedade. A expectativa de vida mudou: quem morria antes com 60 anos hoje está jogando futebol – diz, permitindo a projeção de que o projeto não chegará ao legislativo em regime de urgência.
Conforme o prefeito, de 2013 a 2020 a Prefeitura destinou R$ 268,5 milhões para a Previdência, entre dívidas de governos anteriores e falta de atualização atuarial. Ou seja, não se projetou corretamente os fundos necessário para custear as aposentadorias do funcionalismo pelos próximos 15 anos.
– O rombo é de R$ 1,2 bilhão – apontou.
A projeção de Zaffa é de que, com a reforma, a redução fique entre 30% e 40%.
– Com R$ 300 milhões transformo essa cidade. Todas as mudanças que o ex-prefeito Marco Alba fez não custaram R$ 100 milhões em financiamentos. E, como disse, ele pagou R$ 268,5 milhões apenas para previdência. De 2013 a 2020 sempre pagamos em dia, o que prefeitos lá atrás não fizeram.
– Apanhei na campanha porque disse que faria a reforma. Vou fazer. Em 2021 gastaremos 93 milhões. Não tem cidade que aguente – prometeu.
3.
A adaptação de Gravataí à ‘tecnologia 5G’ e à ‘economia 4.0’ é um mantra de Zaffa.
– A pandemia acelerou essa revolução no modo de fazer as coisas. A Prefeitura precisa responder com velocidade.
Um exemplo citado foi a implantação de novos indicadores na Secretaria de Desenvolvimento Urbano, que libera obras.
– Já tivemos 273 pedidos de alvarás de construção, ou 75 mil metros quadrados, o que multiplicado pelo CUB representa R$ 160 milhões injetados na economia – informou, lembrando que em 2020 os mais 900 mil metros quadrados de construção representaram R$ 780 milhões.
– É preciso medir o que trava os processos. Daremos toda transparência online e vamos ensinar a sociedade a usar as ferramentas de transparência.
4.
Gravataí vai vender ativos públicos, como prédios, terrenos e maquinário.
O prefeito disse que um mapeamento dos bens está sendo feito para promover leilões, ou trocas, com autorização da Câmara.
5.
O prefeito anunciou que vai fazer um novo Centro Administrativo e já conversa com o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) para lançar um concurso para obra arquitetônica.
Em Erra Miki ao buscar empréstimo para construir nova Prefeitura na pandemia; Povo, reis e castelos critiquei o vizinho Miki Breier:
"...
Ao fim, fosse o prefeito de Gravataí Luiz Zaffalon (MDB) a apresentar o projeto de um novo centro administrativo, seria criticado, mas teria todo o governo Marco Alba e os R$ 100 milhões em obras de infraestrutura para apresentar, além de contas em dia para captar três vezes mais em empréstimos se quiser.
Para completar, ganhou a eleição com 22.036 votos a mais do que o segundo colocado e mais do que a soma de todos os adversários somados.
Já Miki e Bonatto terão imensas dificuldades no governo. Financeiras e também políticas, já que não tem a delegação de poder de campeões das urnas.
O prefeito de Viamão tem que consertar o desastre que foi André Pacheco, eleito em 2016 com seu apoio e hoje um desafeto enrolado com a justiça. E ganhou a eleição por apenas 320 votos de diferença.
Miki fez um primeiro governo onde foi mais síndico de folha de pagamento do que entregou obras. E ganhou a eleição por só 318 votos.
Politicamente, ambos não são reis para neste momento pensar que de forma incólume construirão castelos.
..."
À ideia de Zaffa, me rendo.
A proposta é fazer com que o IPG, o Instituto de Previdência, construa o prédio e receba da Prefeitura o aluguel, hoje de quase meio milhão por mês em diferentes sedes e serviços. Isso ajudaria a reduzir a dívida atuarial bilionária com a previdência.
A projeção é economizar também com a sinergia de servidores em um mesmo local e com a sustentabilidade energética.
– Hoje gastamos R$ 350 mil por mês em luz. Com energia solar não passaria de R$ 35 mil.
6.
Zaffa confirmou à Acigra o projeto para abertura de um novo Distrito Industrial que permita tirar empresas do aluguel.
7.
O prefeito antecipou que o projeto de regularização fundiária prevê a chamada “descaracterização das APPs”. Significa autorizar construções em áreas que hoje são de preservação permanente.
– É um problema de cidades entrecortadas por rios. Em Gravataí há de 25 mil a 30 mil imóveis em APPs, muitos desde que a cidade fundada, onde não é possível construir porque precisa de 30 metros da borda do arroio. Cidades do mundo já fizeram essa descaracterização. Vamos explicar bem à sociedade.
8.
O prefeito garantiu que vai concluir obras não terminadas no governo Marco Alba.
– A pandemia atrapalhou, mas vou terminar tudo que ele começou – disse, citando como exemplos a escola do Breno Garcia, o Centro de Educação Especial, a revitalização da Avenida Dorival de Oliveira e o asfaltamento de ruas.
De obras novas, Zaffa citou dois de seus projetos prioritários: seguir as municipalizações e duplicações da ERS-030 até a Av. Acimar Silva e da ERS-020 do Parque dos Eucaliptos até a Neópolis.
– Tenho projetos e financiadores, mas preciso da reforma da previdência para ter certeza de que poderemos pagar as dívidas. Sempre agimos assim, pagando em dia, com ficha limpa para poder passar no banco e tirar um dinheiro.
9.
Zaffalon reafirmou o que disse ao Seguinte: em Sem água e sem esgoto Gravataí segue entre piores do Brasil; Zaffa apoia privatizar Corsan:
– Não é por ideologia. É pelo interesse de Gravataí – argumentou, citando como necessárias quatro obras que a Corsan projeta por uma década e não faz: uma nova adutora da Cavalhada até o reservatório Cipreste; uma adutora na Vista Alegre em Cachoeirinha; a interligação dos dois sistemas e um novo reservatório de 3 milhões de litros cuja área a Prefeitura já cedeu ao lado do CTG Chaleira Preta.
O prefeito lamentou Gravataí estar no 86º lugar entre 100 maiores cidades no ranking brasileiro do saneamento.
– O Rio está podre. Temos apenas 20% de esgoto tratado. Isso encarece empreendimentos que, se não fazem suas estações de tratamento, não podem se instalar – disse, citando o Zaffari da parada 60, que está investindo R$ 6 milhões para transpor esgoto até a Free Way para tratamento.
Para Zaffa, a PPP da Corsan vai “tirar Gravataí da Idade Média”.
– Fui diretor-presidente da Corsan, estive na CRT quando foi privatizada e diziam que localidades que não dariam lucro não seriam atendidas, mas hoje o Rio Grande do Sul tem telefonia sobrando. A abertura traz competidores, gente interessada em vender serviços.
10.
Ao fim, a ‘pauta positiva’ de Zaffa foram as projeções de mais investimentos de e-commerce, como a gigante Magazine Luiza.
– Gravataí é vocacionada à logística. Nossa localização geográfica é fantástica. Costumo dizer que é a melhor cidade para morar na Grande Porto Alegre. É caminho do Litoral, da Serra, do Aeroporto, você chega ao Centro da Capital sem sinaleiras...
Ao menos o prefeito, que já girou o mundo de moto, gosta de morar em Gravataí.
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